Em mais um dia de atividades do Fórum Social Mundial Temático (FSM), o SEMAPI, juntamente com a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (CONTRACS) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), promoveu nesta sexta-feira (22) a oficina “Direito não se reduz, se amplia – A transnacionalização do trabalho precário das multinacionais.” No evento, foram apresentados estudos de caso das empresas Walmart e McDonald’s.
A diretora do SEMAPI, Mara Feltes, conduziu a primeira mesa, que debateu a atuação das redes multinacionais no Brasil. O procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT-RS), Rogerio Uzun Fleischmann, abriu as discussões pontuando que no Brasil é permitido demitir em massa, pagando todos os direitos trabalhistas, mas que o MPT atua buscando sempre uma contrapartida da empresa para tentar minimizar o problema.
Com relação ao caso McDonald’s, o procurador disse conhecer inúmeros casos de adolescentes queimados devido ao trabalho na chapa para fritar os hambúrgueres, porque não há Equipamento de Proteção Individual (EPI). Além disso, falta uma perspectiva de carreira para estes profissionais que trabalham, de acordo com Fleischmann, para nada. “Não há uma contrapartida social da empresa.” No caso do Walmart, há centenas de ações contra a empresa, principalmente indenizações por dano moral, já que o assédio moral é muito presente. O procurador finalizou afirmando que “se outro mundo é possível, certamente ele vai passar por mudanças nas relações de trabalho.”
Antonio Almeida Junior, secretário da CONTRACS, contou um pouco da história da confederação, sua estrutura e sua forma de atuação. O secretário de Relações Internacionais da CONTRACS, Eliezer Pedroso Gomes, parabenizou a organização do encontro, e celebrou a oficina como mais uma conquista do SEMAPI. Ele falou sobre as empresas transnacionais e como elas se configuram, enviando os lucros para outros países. No caso do Walmart, Pedroso salientou que, para se instalar no nosso país, ganha inúmeros benefícios, mas para fechar lojas, o faz sem sequer debater com a sociedade. O secretário também contou um pouco a história do Walmart no Brasil: a corporação atua em 18 Estados, com nove bandeiras diferentes, de supermercados a postos de gasolina.
A segunda mesa começou com a apresentação do estudo de caso do Walmart por Olinto Teonácio Neto, Coordenador do Comitê Walmart da CONTRACS. De acordo com ele, são práticas dessa empresa assédio moral, alta rotatividade, práticas antissindicais, diferenças salariais na mesma função, super jornadas, desvio e acúmulo de função, descumprimento de leis e convenções coletivas e arrocho salarial. Olinto reafirmou que a empresa recebe inúmeros privilégios, mas que fecha 269 lojas em todo o mundo sem dar satisfação a ninguém, muito menos aos sindicatos.
Octaciano Neto, coordenador do comitê McDonald’s da CONTRACS, disse que é funcionário da empresa há 24 anos, já passou por todos os setores e sabe exatamente todos os problemas que existem dentro da rede. De acordo com Octaciano, a luta se dá com relação à igualdade de direitos, que está muito difícil.
Representando a CUT Nacional, o assessor de Relações Internacionais Leonardo Severo ressaltou que é preciso humanizar a situação trabalhista. “As pessoas não são números, há uma vida por trás de cada trabalho.” Para Severo, se o Brasil continuar sendo conivente com essas empresas, a situação de exploração vai continuar. “As pessoas acabam se subestimando e se subordinando porque precisam”, afirmou, e terminou dizendo que é preciso mais solidariedade e humanidade.
Uma moção de repúdio será escrita contra as práticas desses grupos transnacionais, e encaminhada ao Fórum Social Mundial. O SEMAPI reiterou a importância de debater este tema e agradeceu a presença de todos os participantes e palestrantes.
Fonte: Semapi