CUT potencializa troca experiências sobre formação e trabalho de base no Fórum das Resistências
Com o objetivo de potencializar a troca experiências sobre formação e o trabalho de base para intensificar a resistência, a CUT promoveu na manhã desta quinta-feira (19) a mesa de convergência “Formação e trabalho de base no atual contexto brasileiro”. A atividade foi realizada na Tenda da CUT-RS, no Parque da Redenção, em Porto Alegre, durante o Fórum Social das Resistências, com a participação de dezenas de sindicalistas, formadores e educadores sociais.
“A ideia foi criar um espaço de compartilhamento de experiências de formação e trabalho de base, visando integrar as diferentes organizações e a descoberta de inovações políticas e metodológicas”, explicou a secretária de Formação da CUT-RS, Maria Helena de Oliveira.
Cada participante relatou a sua experiência, seguido após foi feito um amplo debate. “Desse encontro será feito um relatório com as propostas e ideias para ajudar a todos nos seus espaços de atuação”, disse.
Formigueiro
Maria Flôr, assessora da Secretaria Nacional de Formação da CUT, apresentou a proposta de formação da entidade, o programa Formigueiro. “Compomos o programa com diversas parcerias, buscando ampliar ao máximo”, contou ao dizer que a proposta não se dirige apenas para sindicalistas.
Para ela, é preciso estender o processo formativo para além dos encontros. “É preciso fazer com que as pessoas entendam que os direitos são conquistados e podem ser perdidos”, afirmou.
A CUT produziu cartilhas para auxiliar os formadores e nortear os cursos de formação. “Objetivo agora é fazer com que o programa ganhe o mundo, que façamos parte de um grande formigueiro”, finalizou Maria Flôr.
As cartilhas podem ser baixadas no site da CUT. Acesse aqui.
Inúmeros desafios
“Termos uma boa formação ideológica é o principal elemento para a formação e o trabalho de base”, salientou Frei Sérgio Görgen, militante da Via Campesina, que destacou outros pontos que considera essenciais para a formação. “Temos que estudar muito, ler, observar, dialogar. Acredito que a verdadeira formação se dá através do diálogo e não apenas na transferência do conhecimento”, defendeu.
A importância de fazer a transição de geração também foi apontada pelo Frei Sérgio, que frisou que sem isso a formação morre. “Por fim, não pode ter apenas a teoria, as dinâmicas tem que envolver a prática.”
Fazendo referência aos instrumentos e métodos, ele salientou que é necessário pensar todos os elementos sociais. “Nada mais importante que construir a unidade respeitando a diversidade”, encerrou Frei Sérgio.
Criticando algumas medidas e concepções da formação sindical, o presidente da Federação dos Metalúrgicos (FTM-RS) e representante do Macrossetor da Indústria, Jairo Carneiro, afirmou que “a formação não serve para nada se não realizar, também, a luta política”.
Jairo contou como o programa de formação da FTM-RS foi se aprimorando com o passar dos anos. “Hoje temos representatividade e organicidade”, disse. Mas citou que um dos maiores desafios é sair do corporativismo. “Não se faz formação dentro de quatro paredes. Nada melhor que uma greve para aprender na prática”, garantiu.
Diálogo e informação
A formação e o trabalho de base na luta por moradia foram destacados por Luciano Schafer, integrante da Ocupação Lanceiros Negros, e por Camila Borges, da Ocupação Mirabal. Ambos afirmaram que o trabalho é feito por núcleos de atuação em bairros e universidades, com reuniões frequentes.
Luciano disse que foi numa dessas reuniões que começou o debate da Ocupação Lanceiros Negros. “Estamos há mais de um ano ocupando um prédio público que estava inativo. É através da luta pela moradia, que tocamos a luta política”, declarou.
Já Camila explicou que na Ocupação Mirabal o foco não é apenas a moradia, mas engloba a questão da mulher. “O Brasil é o quinto país em números de mulheres mortas e para nós isso não é apenas um dado, pois fazemos parte desses números”.
A Ocupação Mirabal tem menos de dois meses e foi inspirada na Ocupação Tina Martins, de Belo Horizonte, que foi a primeira ocupação de mulheres da América Latina. “Já temos uma rede de diversos profissionais para auxiliar e acolher as mulheres”, contou Camila.
Formação profissionalizantes de jovens
Porto Alegre conta com a única escola do Brasil de um sindicato, a Escola Técnica Mesquita, que visa a formação técnica e política de jovens. “Essa visão mais humana e ideológica é essencial”, acredita a coordenadora pedagógica da Escola, Claudete Souza Oliveira.
“Além dos cursos técnicos, na parte da tarde oferecemos projetos especiais para jovens em situação de vulnerabilidade com a duração de um ano, onde trabalhamos temas transversais de uma maneira lúdica, com saraus e poesia”, disse.
Já o coordenador do Instituto Integrar/RS, Docimar Querubin, destacou que o movimento sindical urbano rompeu com a lógica de uma formação apenas para o mundo do trabalho. “Pensar o sujeito na formação com a sua integralidade é fundamental para promovermos alguma mudança”, declarou.
Não se faz luta sem feminismo
Representante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Maria do Carmo, enfatizou que “não se faz luta sem feminismo”. Ela explicou que a MMM participa de formações mistas, mas não sem antes fazer formação com as mulheres.
A MMM organiza duas grandes formações no ano e todo o trabalho é baseado no consenso. “Trabalhamos com consenso e isso é uma construção muito difícil, pois todas as companheiras devem andar juntas e quem determina o ritmo não é quem está lá na frente com anos e militância, mas quem chegou por último”, contou.
Maria do Carmo disse ainda que nenhum grito de guerra ou palavra de ordem da MMM, que se ouve nas ruas, é criado sem discussão e consenso.