Fórum Social de Educação Popular debate a partir de domingo “educação popular e emancipadora”
Dois dias antes de receber a edição que marca os 15 anos de Fórum Social Mundial, Porto Alegre se volta para uma discussão essencial na ideia de outro mundo possível: a educação. A partir deste domingo (17), a capital gaúcha sediará o Fórum Social de Educação Popular. O evento que se estende até sábado (23), contará com a participação de pesquisadores da América Latina, África e Europa.
A ideia de um fórum focado em debater educação, democratização do conhecimento e seus rumos, surgiu de uma parceria Brasil-Portugal. Depois de meses de conversa entre a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil) e o Centro de Estudos Sociais, o CES, da Universidade de Coimbra, veio a ideia de realizar a primeira edição do evento juntamente com o Fórum Social Temático, no marco dos 15 anos dos Fóruns Sociais Mundiais, em Porto Alegre.
“Acho que os últimos anos nos ensinaram que negligenciar a educação é perder a juventude e o futuro. Habituamo-nos a distinguir entre educação popular, emancipadora das mentes e das práticas e educação formal (anti-popular) reguladora das mentes e das práticas”, afirma o sociólogo português e um dos organizadores do Fórum Social de Educação Popular, Boaventura de Sousa Santos. “A verdade é que a educação formal se diversificou, se democratizou e se transformou num campo de luta importante”.
Boaventura se refere à questão que se tornou o tema do encontro: a relação entre educação popular e as universidades. Criador do conceito de Epistemologias do Sul — que busca descentralizar a produção e conhecimento científico do hemisfério norte para o sul — o professor da Universidade de Coimbra é bastante crítico ao que as universidades se tornaram desde que o fator capital entrou na equação. Para ele, o “capitalismo educativo” é o grande risco da educação e das universidades públicas atualmente. E consequentemente das sociedades que se funda neste sistema.
Como a própria organização do Fórum defende, o encontro está “assente na ideia de que a democratização das sociedades passa necessariamente pela democratização do conhecimento”. O antídoto tem sido administrado em uma série de projetos que também se nutrem desta parceria entre universidades e movimentos.
Um exemplo é o projeto Universidade Popular dos Movimentos Sociais, com o qual o próprio Boaventura está envolvida há 13 anos e o Projeto ALICE, também ligado ao CES da Universidade de Coimbra. “Hoje temos de dar um passo mais e lutar porque toda a educação seja popular e emancipadora e para isso é necessário iniciar ou aprofundar o dialogo e a interação entre educação popular, universidade pública e universidade autônoma dos movimentos sociais”, defende ele.
Encontro acontece na Redenção e na Câmara
A programação do Fórum da Educação Popular inclui a convergência de pensamentos e temas vindos da América Latina, África e Europa. As mesas propostas na programação unem pesquisadores de universidades reconhecidas internacionalmente e representantes de movimentos e iniciativas pioneiras no acesso à educação.
Entre os participantes estão desde representantes do Museu da Maré – localizado no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, que é o primeiro museu do Brasil dentro de uma favela -, o jurista espanhol Baltazar Garzón e o educador peruano Oscar Jara. Uma mesa prevista para o dia 22, congregará ainda a Ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, com especialistas para discutir Direitos Humanos no âmbito da educação popular.
No primeiro dia, domingo (17), as atividades do Fórum de Educação serão concentradas na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, no Centro Histórico. A partir de segunda, as mesas acontecem em uma tenda armada na Redenção. A tenda acabou batizada com o nome do fundador da “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire.
“É precisamente a articulação entre os diferentes meios de educação emancipadora. Muito especificamente queremos conhecer melhor as experiências inovadoras”, conta Boaventura antecipando as expectativas do encontro. “São iniciativas que por vezes são pouco conhecidas para além daqueles que as promovem. Vamos trocar conhecimentos e ganhar mais força e determinação a partir desse inter-conhecimento”.
Mais informações sobre o evento e inscrições estão disponíveis no site do FSEPop: http://www.forumeducacaopopular.org/.
Por Fernanda Canofre – Sul21