Coletiva de imprensa reúne entidades e movimentos para tratar do Fórum Social Temático
O Fórum Social Temático comemorativo aos 15 anos dos Fóruns Sociais Mundiais deu largada nesta segunda-feira (18). Um dia antes da abertura oficial do evento, movimentos sociais e entidades responsáveis pela organização e coordenação do FSMTemático estiveram presentes em uma coletiva de imprensa realizada no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
O Fórum que nasceu em Porto Alegre, mas carimbou passaporte por Índia, Quênia, Nigéria e Tunísia, acampa mais uma vez na capital para relembrar histórias de 15 anos de encontros altermundistas. A capital gaúcha recebe uma edição regional do evento. A edição mundial acontece em agosto, na cidade de Montreal, no Canadá. Será a primeira vez que o FSM migra para o hemisfério norte.
Durante a coletiva, Mauri Cruz, membro da Abong (Associação Brasileira de ONGs), lembrou que o Fórum segue mantendo seu “espírito autogestionário”. Ou seja, todas as 470 atividades previstas na programação, partiram da organização e articulação dos movimentos sociais. Segundo ele, enquanto a parte da manhã será reservada para as atividades autogestionárias – mesas independentes de cada movimento – a parte da tarde será dedicada quase integralmente às mesas de convergência. Mais do que nos anos anteriores, este ano, as mesas de convergência conseguiram reunir representantes de diversas origens em debates comuns. Por isso, a previsão é que elas concentrarão grande atenção e participação do público.
Na coletiva, foi ainda lembrado que o Fórum terá atividades acontecendo em diversos espaços. Porém, os quatro pontos principais serão a Redenção (Parque Farroupilha), Largo Zumbi dos Palmares, Câmara de Vereadores de Porto Alegre e Assembleia Legislativa. Para isso, a Carris já disponibilizou uma linha circular especial, com passe livre, para os participantes.
Estimativa de gastos e participantes
Segundo números apresentados na coletiva, até o momento, o Fórum Social Temático 2016 tem um gasto estimado de R$ 1,9 milhão.
Deste total, R$ 1 milhão veio da Prefeitura de Porto Alegre. O comitê do Fórum esclarece, porém, que este dinheiro está relacionado ao empréstimo de infraestrutura, cedida pelo governo municipal. Do governo federal, o Fórum recebeu: R$ 500 mil da Petrobras, R$ 180 mil da Itaipu Binacional e R$ 180 mil do SESI. O valor repassado pelo Sesi, na verdade, foi encaminhado ao Fórum Social de Educação Popular. Como o evento ocorre dentro do Fórum, toda a verba foi colocada em gestão coletiva, como um caixa único.
A organização colocou ainda no cálculo uma estimativa de R$ 40 mil, vindo das inscrições de participantes. A expectativa do comitê é ter em média de 8 a 10 mil pessoas circulando pelas atividades do FST todos os dias.
Participantes próximos da realidade
“Aquilo que se dizia em 2001 ser uma possibilidade, hoje é uma realidade”, afirmou Mauri Cruz se referindo as principais pautas do FSM. Este ano, a primeira vista, a programação que já contou com nomes como Eduardo Galeano, José Saramago e Adolfo Pérez Esquivel, não traz muitos nomes conhecidos do grande público. Os convidados deste FST, no entanto, refletem a “realidade”. “O Fórum tem essa perspectiva, de que cada cidadão precisa se auto-representar”, explica.
O FST abrigará o primeiro Fórum Mundial da População Idosa, que vai tratar dos desafios e como enfrentar o envelhecimento da população mundial. O movimento de HIp Hop também tem forte programação no evento, tanto em apresentações culturais, quanto nos debates. O Acampamento da Juventude espera entre 1,5 e 2 mil pessoas até sexta. Tudo isso demonstra o mosaico de diversidades que formou o Fórum desde o início.
Além disso, os participantes confirmados na programação são agentes ativos nas transformações recentes do cenário internacional. Exemplo disso é a participação de um grupo de curdos que enfrenta o Estado Islâmico na Turquia e da delegação de pensadores judeus que apoiam o reconhecimento da Palestina. Uma das baixas sofridas pelo Fórum, às vésperas de sua abertura, foi a ausência de um grupo de palestinos de Hedron, na Cisjordânia, que não pode embarcar para o Brasil devido a ataques na cidade.
Se antes o Fórum já abria espaço para movimentos de mulheres, indígenas e negros, nesta edição, em meio ao contexto recente de protestos no Brasil, isso deve se intensificar ainda mais. “Lembrar 2001 e chegar agora, estamos em outra etapa da luta anti-imperialista. E este Fórum terá de dar uma resposta”, defendeu a vereadora de Porto Alegre, Jussara Cony, integrante do Comitê. Para ela e seus colegas de mesa, num momento de crise política e econômica, como o atual, as questões debatidas pelo Fórum cresceram em importância.
A ideia é dar ênfase em pautas negligenciadas pela grande mídia. O genocídio de jovens negros e movimentos de mulheres negras, por exemplo, estão no topo da lista. Os participantes lembraram da cobertura feita pela mídia tradicional da Marcha de Mulheres Negras em novembro de 2015. Ainda que movimento tenha reunido 50 mil mulheres na Praça dos Três Poderes, a manifestação só recebeu atenção quando os casos de agressão e violência policial aconteceram.
“O Fórum Social Mundial não é o momento de agregação de pessoas que já são ouvidas pela grande mídia, mas é o momento de dar voz para companheiros que nem sempre são ouvidos”, lembrou José Antônio dos Santos da Silva, representante do movimento negro.
Fórum Social da Mídia Livre
Outro encontro que acontece dentro do FST 2016, o Fórum Mundial de Mídia Livre também terá uma edição durante o Fórum Social Mundial no Canadá, em agosto deste ano.
Em Porto Alegre, os seminários do FMML acontecem todos os dias no campus da ULBRA. O grande debate será o papel da mídia brasileira na democracia. Para Rita Freire, coordenadora da Ciranda (rede de comunicação compartilhada), não é nada bom. “Temos de aproximas a população dos meios, para assim transformar suas vidas”, disse ela durante a coletiva. Rita explica que as formas de aumentar o acesso à mídia é uma das prioridades do debate no momento.
A situação da vizinha Argentina – onde a batalhada e polêmica Ley de Medios, de Cristina Kirchner, voltou a ser discutida – para Rita é bastante simbólica. Na avaliação dela, foi a aprovação da lei que prejudicou Cristina nas últimas eleições e deu a vitória a Mauricio Macri. No Brasil, por sua vez, o tema nem é tocado em debate. “Temos de começar a pensar uma mídia não voltada para o mercado, mas aos interesses da sociedade civil”.
Fernanda Canofre – Assessoria de Imprensa do FSMTemático 2016
Fotos: Vinícius Ehlers – Comunicação Colaborativa do FSMTemático 2016