Mesa de autoridades marca início de atividades do Fórum pedindo mais tolerância
A terça-feira (19) começou com um ritual ecumênico no Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa. Diversos representantes religiosos deixaram seus símbolos no palco, em frente à mesa de debate, em uma manhã marcada pelo pedido à tolerância e ao diálogo.
Presentes na mesa de abertura estiveram autoridades como o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o presidente da Câmara de Vereadores, vereador Cássio Trogildo e o presidente em exercício da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Ronaldo Santini. Além deles, a mesa teve falas de Mauri Cruz, representando a Abong (Associação Brasileira de ONGs), Salete Camba, membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e Lélio Falcão, do Instituto Amigos do Fórum.
A vereadora Jussara Cony, membro do comitê do Fórum, foi convidada a se sentar com os demais para representar as mulheres e indígenas.
As falas destacaram a necessidade de se falar em religião hoje. “A discussão da diversidade, da pluralidade da questão religiosa, são fundamentais dentro do Fórum Social e para que a gente tenha um mundo de paz”, disse Salete Camba. Ela defendeu ainda que muitos dos conflitos atuais são gerados porque buscamos sempre que o “mundo” do outro se molde a nossa cultura, ao invés de experimentar a cultura dele. “Mas o mundo é um só. Temos de somar as diferenças”, concluiu.
O vereador Cássio Trogildo citou uma frase de Nelson Mandela, na qual o líder sul-africano lembra que ninguém nasce odiando aos outros por cor ou religião, e que se alguém pode aprender a odiar, também pode aprender a amar. E elogiou a iniciativa de líderes religiosos dialogarem juntos em Porto Alegre. “Nesta época de tanta intolerância, marcada pelos ataques de Paris, nossa cidade dá um grande exemplo com esse encontro interreligioso”, disse.
O prefeito da capital gaúcha, José Fortunati, fez coro a fala do vereador. “A sociedade que nós desejamos é uma sociedade que respeite às diferenças”, defendeu ele. Fortunati falou ainda sobre o crescimento do sentimento de intolerância, especialmente nas redes sociais. Ele lembrou do caso da filha de Chico Buarque, a atriz Silvia Buarque, atacada em sua conta pessoal de uma rede social, depois de postar uma foto da família. “Por isso o Fórum Social, nestes seus 15 anos, tem de mostrar cada vez mais o respeito pelas diferenças”.
Fortunati defendeu também que a religião é um meio de exercitar a tolerância com o outro. Ele lembrou de um episódio recente que lhe gerou críticas: um grupo de umbandistas realizou o tradicional ato de lavar as escadas da prefeitura, como forma de marcar o início do ano. Segundo o prefeito, ele passou a sofrer muitas críticas desde então. Pessoas o questionavam sobre a laicidade do estado. “O Estado é laico, mas essa é uma maneira de respeitar as diferenças”.
Para o deputado Santini, se o mundo tivesse mais rodas de chimarrão e menos discussão, seria um lugar melhor. “Temos acima de tudo que aprender a amar e respeitar as pessoas. Acima de qualquer credo ou religião”, disse.
O restante da manhã deu espaço para falas do Grupo Inter-religioso de Porto Alegre. Os membros – representantes de diversas religiões – encerraram a atividade com um abraço pela paz.
Grupo Inter-Religioso de Porto Alegre celebra “diferenças” e fala de empatia pelo outro, no FSMT
Na manhã de terça-feira (19), o Teatro Dante Barone foi preenchido com o perfume de um incenso. Colocado diante da mesa, junto com vários símbolos de outras denominações religiosas, ele marcava ali uma comunhão. Membros de diversas confissões religiosas do Rio Grande do Sul – todas elas parte do Grupo Inter-Religioso de Porto Alegre – se reuniram para falar de tolerância e pedir mais empatia.
Logo no início do encontro, todos os participantes presentes no auditório do teatro, foram convidados a se darem as mãos. Segundo a organização, a ideia da mesa ecumênica, falando sobre a importância do diálogo entre religiões veio da encíclica Laudato si’, publicada pelo Papa Francisco em 2014. A partir daí, o Fórum Social resolveu convidar o Grupo Inter-Religioso da capital gaúcha para conduzir o debate sobre importância do diálogo entre religiões.
“O único caminho da humanidade hoje é a conciliação, fraternidade e amor. Esse é o trabalho do grupo, trabalhar na construção de canais de comunicação”, disse à mesa Ahmad Ali, representante do Centro Cultural Islâmico em Porto Alegre. Ahmad é um dos membros fundadores do Grupo Inter-Religioso da capital gaúcha.
O Grupo foi reconhecido por lei municipal em janeiro de 2008. Porém, já estava articulado desde 1994. Tudo começou com as três religiões monoteístas se reunindo. As portas da Catedral Metropolitana se abriram para que muçulmanos vivendo em Porto Alegre tivessem um local para fazer suas orações. Ahmad convidou então um representante da Igreja Católica e um representante judaico e o grupo surgiu.
Segundo o Rabino Guershon Kwasniewski, da Sociedade Israelita Brasileira, no entanto, o início não foi fácil. “Hoje fazer parte de um grupo inter-religioso é fácil, mas anos atrás era difícil. Éramos mal vistos dentro de nossas próprias comunidades por buscar esse diálogo fora”, revelou ele durante a conferência. “Mas o primeiro que fazemos é derrubar barreiras. A barreira da intolerância”.
O Padre Luiz Carlos de Almeida, representando a Igreja Católica, lembrou sobre o tema trazido este ano pela carta do Papa publicada tradicionalmente nos dias 1º de janeiro: “Vence a diferença, conquista a paz”. “Essa globalização da indiferença, de que fala o Papa Francisco, é um desafio muito grande para todos nós”, lembrou ele, explicando que a empatia e a misericórdia tem de ser exercícios diários.
O Pastor Carlos Dreher, da Igreja Luterana, reforçou esse pensamento. “O jeito que o mundo oferece paz é pelo egoísmo, pela luta de poder, gerando muita destruição e pouco ganho. É só pensar em um só foguete quando explode, gastando milhões de recursos”, disse. O Pastor se referiu aos gastos em guerras e armamentos, que poderiam ser redirecionados a questões mais urgentes. “Temos de prestar atenção e assumir responsabilidade em tudo isso”.
Em seguida, a Monja Isshin, do Zen Budismo, falou um pouco sobre a busca pela paz. “A paz começa com cada um de nós neste exato momento”, disse à plateia. Ela comentou sobre como os discursos políticos de lados opostos, frequentemente parecem carregados de raiva. “Não é com raiva que vou transformar ele, mas sentando e buscando o diálogo. Todas as religiões buscam a compreensão, mas usam palavras diferentes para expressar. A paz que eu quero construir começa comigo”.
A representante da Fé Bahai, Suzana Zaman, reforçou a ideia. Ela lembrou do trabalho da comunidade Bahai espalhado em todo o Brasil, baseado na ideia de que “somos todos parte indissociável daquilo que nos cerca”. Ou seja, qualquer parte que fique doente, pode acabar infeccionando todo o corpo. Segundo ela, este é o princípio de “guardiania coletiva” de sua religião. “Que todos tenham luz e paz para compartilhar experiências de melhorar o mundo”, concluiu.
O presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, Gabriel Salun, também salientou o encontro de diferenças baseado no respeito. “Temos aqui inúmeras diferenças – de traje, de crença, de cultura – mas nenhuma diferença é eticamente maior do que aquilo que nos une”, afirmou. Salun alertou ainda sobre a necessidade de se falar mais de Deus.
O Rabino Kwasniewski lembrou no final alguns princípios colocado na Carta que orienta até hoje o Grupo inter-religioso. A busca por uma cultura de paz e uso responsável da natureza, questões ainda mais urgentes hoje, já eram debatidas por eles há vinte anos. “Não podemos ser indiferentes ao sofrimento alheio, a construção da paz se dá com ações”, defendeu ele. “Existem imperfeições neste mundo, mas também existe muita vontade de fazê-lo melhor. Este é um princípio judaico: corrigir o mundo”.
No final do encontro, uma carta enviada pelo gabinete do Cardeal Tucson, desde o Vaticano, foi lida aos presentes. O Cardeal estava convidado para comparecer ao Fórum, mas não pode vir porque estava em missão na África.
O Babalorixá Clóvis de Xangô – representante das religiões de matriz africana – estava listado na mesa, mas não compareceu ao evento.
Por Fernanda Canofre
Assessoria de Imprensa FSMT
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