Clube de Cultura sediou importantes debates do Fórum Social das Resistências
O Clube de Cultura de Porto Alegre foi um dos principais espaços de atividades durante o Fórum Social das Resistências realizado de 17 a 21 de janeiro. Debates, exibição de filmes e documentários, exposições fotográficas, apresentações artísticas, culturais e venda de livros reuniram centenas de pessoas. O encerramento ocorreu com seminários durante a tarde de sábado e shows musicais do Grupo Alabê Oni e da cantora Marietti Fialho, à noite.
Para o presidente Mozart Dutra, a cultura é um importante instrumento de resistência e o Clube de Cultura se coloca como um território de aglutinação de movimentos e pessoas num momento de retrocessos locais, nacionais e no mundo.
“O que ocorreu durante o FSR foi muito mais que debates. As pessoas queriam falar, dar seu depoimento, compartilhar o que estavam passando. Foi uma rede de coletivos e pessoas incrível que trouxe muita energia e vigor. A resistência cultural é uma ferramenta, uma linguagem que chega a todos. O Clube de Cultura sai deste Fórum muito mais musculado e vamos dar continuidade a este processo”, ressalta Carolina Baumann, que integra a nova direção que assumiu em dezembro.
Contra o desmonte do Estado
O desmonte do Estado pelos governos atuais, com a extinção de políticas públicas e órgãos ambientais, da ciência e pesquisa, da cultura e pautas de defesa do meio ambiente foram o foco principal dos encontros no Clube. As atividades foram realizadas em parceria com o Coletivo A Cidade Que Queremos, Coletivo Ambiente Crítico, Associação Cultural José Martí, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Movimento Preserva Arado, Cais Mauá de Todos, Rede Minha Porto Alegre e Fórum Justiça.
Também estiveram presentes membros da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap), representantes dos órgãos e fundações liquidados pelo governo Sartori, bem como dos moradores de áreas de ocupação e dos catadores/recicladores, entre outros grupos ameaçados pelos governos municipal e estadual.
As pautas incluíram debates aprofundados, com presença de protagonistas que vivenciam os desmontes e articulam resistências nas áreas ambiental, cultural e social. Ocupações urbanas, agricultura urbana, ações judiciais de caráter coletivo se incluem entre os enfoques trabalhados pela sociedade no Clube de Cultura. “Os desafios na área ambiental, as abordagens das mudanças do clima e seus impactos, bem como alternativas para incorporar a equação ecológica na discussão do desenvolvimento, que não seja sua destruição, foram importantes temas dos debates nesta semana. O Clube de Cultura foi um lugar privilegiado para somarmos forças e pautas comuns, discutindo alternativas para frear os ataques da especulação do capital sobre a natureza”, avalia o presidente da Agapan e integrante do Coletivo A Cidade que Queremos, Leonardo Melgarejo.
A riqueza cultural das fronteiras do Brasil com os países vizinhos também teve espaço na agenda. “O encontro do Fronteiras Culturais foi muito bom, pois rompemos mais uma “bolha” territorial e compartilhamos as nossas linguagens, sonoridades, reflexões, planos e atividades com novas pessoas. Estou muito emocionado com a enorme sincronicidade que encontramos lá no Clube de Cultura”, registra Ricardo Almeida, Consultor em gestão e territórios culturais.
“A resistência é necessária e o Clube de Cultura cada vez mais se configura como um espaço para formação de consciência de que todo o poder deve ser do povo e devemos resistir sempre. Esses debates são verdadeiros combates, onde vamos construindo um mundo mais humanista e solidário”, destaca Ricardo Haesbaert, da Associação Cultural José Martí.
A estudante Ana Júlia Ribeiro, conhecida por uma manifestação na Assembleia do Paraná durante as ocupações nas instituições de ensino em 2016, participou dos debates no Clube pelo movimento secundaristas. “A troca de experiências é muito rica num fórum como esse. A união de lutas de grupos diferentes, fortalece a resistência nas lutas individuais e de segmentos específicos”, disse.
“A reflexão sobre nosso comportamento frente às formas de produzir do capitalismo estiveram presentes no debate sobre agricultura urbana. O resgate da memória e as formas de resistência através das feiras livres, das hortas urbanas e da agroecologia ajudaram nisso. As feiras propiciam formas de aquisição de alimentos saudáveis que transcendem o ato de comercialização. São espaços de socialização, de trocas de saberes e sabores. Atravessaram séculos e continuam vivas fazendo pulsar as nossas cidades.”, lembrou Lucimar Siqueira, da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB).
Retomada da trajetória
Criado em 1950 de modo solidário por intelectuais judeus, a maioria comunistas que não encontravam espaço nas sinagogas, foi sede de um grande número de atividades por mais de meio século acolhendo e promovendo atividades intensas, especialmente na ditadura militar, quando muitos deixaram o Clube temendo represálias. O primeiro show de Nei Lisboa ocorreu lá. Também houveram shows de Elis Regina e Lupicinio Rodrigues, bem como peças de Caio Fernando Abreu. O local foi sede de iniciativas como a Cooperativa dos Músicos de Porto Alegre (Coompor), o Teatro Escola de Zé Adão Barbosa, a Editora Deriva, o Ateneu Libertário Batalha da Várzea, a Frente Gaúcha de Solidariedade ao Povo Palestino e a redação do jornal Já.
Um de seus idealizadores e entusiastas, Hans Baumann, faleceu em 2016 com 88 anos. A filha Carolina Baumann dá continuidade a este legado que está sendo revigorado. “O Clube já nasceu como alternativa e está na sua essência a resistência e a diversidade. Estamos revigorados e não vamos parar”, conclui.
Cinema, fotografia e música
“Jango” e “Privatizações: a distopia do capital”, de Silvio Tendler; os documentários “1914” e “Brasil um retorno a razão!?”, de Klaus Farina; “Espírito de porco”, de Chico Faganello & Dauro Veras; “Devastação sem compensação”, de Bernardino Furtado; “Requiem for the American Dream”, de Noam Choamsky e “Todo Guantánamo é nosso”, de Hernando Calvo Ospina.
Também exposição de fotografias de Adriana Epifanio (Rivera Lado B – Rivera, Uruguai), Leandro Abreu da Silveira (América do Sol – Santana do Livramento), Paulo Corrêa (Reflexos das Raízes Africanas – Porto Alegre) e Zé Darci (Baobás do fim do mundo – Pelotas).
Os debates foram intercalados com shows de Demétrio Xavier, Chito de Mello e Yoni de Mello (Uruguai), Felipe Azevedo, entre outros.
Também teve a programação do movimento Fronteiras Culturais / Fronteras Culturales.